Meia sofreu grave lesão durante o Mundial e teve de sofrer calado para não atrapalhar a concentração dos seus companheiros. 'Chorava sozinho'
Ninguém mais do que Elano sofreu com a eliminação do Brasil na Copa de 2010, disputada na África do Sul. A Seleção caiu nas quartas de final diante da Holanda, em Durban, e o meia, que está de volta ao Santos, não pôde jogar. Angustiado, ele viu a equipe canarinho deixar a competição sem poder fazer nada.
Na segunda partida da primeira fase, contra Costa do Marfim, Elano levou uma entrada duríssima do volante Tioté, lesionou o tornozelo direito e deu adeus ao Mundial. Na última quinta-feira, o jogador abriu as portas de sua casa em Limeira, no interior de São Paulo, ao Globo Esporte e ao GLOBOESPORTE.COM para revelar o drama que viveu nos dias seguintes à lesão (o jogo contra os marfinenses foi em 20 de junho, em Joanesburgo). Enquanto mostrava fotos antigas, algumas relíquias, como um violão autografado por Pelé, e arriscava tacadas de sinuca, o jogador ia falando sobre seus momentos de angústia solitária.
Elano chorava sozinho, trancado em seu quarto no Randpark Golf Club, onde a equipe brasileira estava concentrada. Não queria contaminar o restante do elenco com seu baixo astral. Evitava conversas, sob o risco de se desmanchar em lágrimas na frente de algum companheiro. Lesão grave e eliminação. Se o Brasil inteiro sofreu com a decepção no Mundial, para o meia, a tristeza foi dobrada.
A seguir, confira os melhores lances do papo com o “novo velho” astro santista.
GLOBOESPORTE.COM - Como foram aqueles momentos logo após sua lesão na Copa do Mundo? Você estava muito bem, considerado o melhor brasileiro no Mundial e, de repente, ficou fora.
ELANO - Foram os piores momentos da minha vida. Dentro do meu quarto, sozinho, sofria a noite inteira acordado, fazendo tratamento para tentar voltar. Passava quase 24 horas por dia com o doutor Runco (José Luiz Runco, médico) e o Rosan (Luiz Rosan, fisioterapeuta). Ficava tentando ver se dava para voltar. Mas sabe quando você fica se enganando? A vontade de voltar é tanta que a gente fica tentando. Eu queria mostrar que iria conseguir, mas sentia muita dor. Principalmente quando tentava arrancar para o lado esquerdo. Parecia que tinha uma faca enfiada no tornozelo.
GLOBOESPORTE.COM - Você percebeu na hora da lesão que estava fora da Copa?
ELANO - Eu pensei que tinha quebrado a perna. Tanto que fiquei paradinho, esperando o pessoal entrar em campo. Quando o Deni (massagista) apertou o tornozelo, eu senti muita dor, mas fiquei aliviado, pois percebi que não tinha fratura. Só que nos dias seguintes eu vi que não daria para jogar. A dor era muito forte mesmo. Eu tomava tanto remédio que um dia cheguei a passar mal na concentração. Por causa dos comprimidos, a comida não era digerida direito e minha barriga doía muito. Só eu sei como sofri. Eu me trancava no quarto e ligava para meus familiares e amigos. Precisava ter alguém para conversar. Não falava com o pessoal da Seleção. Não iria acordar a pessoa para desabafar, pois era uma Copa do Mundo, estávamos concentrados e eu não queria passar essa preocupação para o grupo.
GLOBOESPORTE.COM - E como foi ficar quieto e não deixar sua dor transparecer para o restante do elenco?
ELANO - Nas minhas entrevistas coletivas depois da lesão eu estava arrebentado emocionalmente, mas não podia baixar a cabeça. Só que eu sabia que não dava. Então, voltava para o meu quarto e chorava muito. Toda vez que vejo o lance da lesão volta tudo (assista ao vídeo acima. Clique aqui para conferir mais vídeos do SporTV). Eu me preparei durante um ano para essa Copa. Estava em perfeita forma física e mental. Iria realizar o meu sonho e sabia que tinha tudo para ir bem. Infelizmente, aconteceu. Foi uma entrada desleal, mas não tenho mágoa do Tioté. Acontece.
GLOBOESPORTE.COM - Algum jogador percebeu que você não estava bem, que estava angustiado?
ELANO - Só o Kaká. Ele me dizia: ‘Fica tranquilo que todos estão vendo o seu esforço’. Eu nunca parava para falar com ninguém. Se eu fizesse isso, choraria.
ELANO - Foi muito difícil. O Brasil fez um primeiro tempo maravilhoso, mas fiquei preocupado com o modo como voltamos para o segundo tempo. Não foi culpa de ninguém, não esperávamos, mas aconteceu. Depois do jogo, o Sneijder e o Van Persie (jogadores da Holanda) foram ao nosso vestiário. Eles mesmos não acreditavam quem tinham eliminado o nosso time. Quer dizer, o sentimento é até pior: o resultado surpreendeu até o adversário. Eles olhavam o nosso time: todos ali sentados, decepcionados, alguns chorando, e diziam: ‘A gente não está acreditando’.
GLOBOESPORTE.COM - Depois desse trauma, você está de volta ao Santos. Como está sendo esse retorno?
ELANO - Está sendo muito gostoso. Tenho certeza que todo jogador que está fora do Brasil pensa em voltar todo o dia. Comigo era assim. Eu tinha duas possibilidades concretas: Flamengo e Santos. Falei com o Vanderlei (Luxemburgo, técnico rubro-negro). Agradeço muito a ele, pois sempre se mostrou à disposição para me ajudar. Ele quis a minha volta. Mas também houve a presença da diretoria do Santos lá na Turquia. Quando eles chegaram a Istambul para negociar com o pessoal do Galatasaray, me dando a oportunidade de um contrato de três anos, liguei imediatamente para o Vanderlei. Agradeci o interesse, mas disse que o Santos sempre foi a minha casa.
GLOBOESPORTE.COM - E por que resolveu voltar?
ELANO - Voltei para ficar próximo da Seleção. Eu já esperava ficar fora dessas convocações (as primeiras de Mano Menezes). Agora, estou me preparando para o ano que vem. Aí, será diferente. Vou estar perto do treinador (Mano), jogando num grande time, disputando ótimos campeonatos. Vou buscar o meu espaço. Acredito que meu ciclo não acabou. .
GLOBOESPORTE.COM - O Santos está vivendo um momento de euforia com a formação de uma nova geração de garotos. Você, que já foi um “menino da Vila”, como vê isso?
ELANO - Fico feliz e orgulhoso de poder estar com esses garotos talentosos. Eu me sinto um pouco responsável por esse momento. Cheguei ao Santos em 2000, num período difícil, sem títulos, com a torcida colocando faixas de cabeça para baixo. Aquela nossa geração reergueu o Santos. Depois de 2002 (quando o Peixe conquistou o Brasileirão sob a batuta de Elano, Robinho, Diego e companhia), todos vimos o que aconteceu: títulos, jogadores na Seleção. Iniciamos um ciclo vitorioso. Espero que continue.
10 de dez. de 2010
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